Quadrinhos contra a corrupção: O Doutrinador

o doutrinador capa

O Doutrinador  é  um quadrinho brasileiro independente produzido pelo designer Luciano Cunha.  A história virou fenômeno nas redes sociais  por trazer um personagem polêmico justo às vésperas das manifestações de junho de 2013.  Trata-se de um justiceiro cujo objetivo é aniquilar os responsáveis pela corrupção no Brasil.

Embora a ideia do vigilante seja muito comum sobretudo entre os quadrinhos de super heróis, este personagem inova por ter suas incursões inseridas em casos reais do contexto político brasileiro.  São acontecimentos divulgados pela mídia,  mas que são negligenciados pelo Judiciário e caem no esquecimento.

A revolta e indignação com a corrupção e impunidade  levaram à criação de O Doutrinador, um justiceiro brasileiro que faria o acerto de contas com a classe política brasileira, custe o que custar. O uniforme militar, a camiseta do Sepultura e máscara de gás da II Guerra Mundial completam o perfil deste vigilante que vive à margem da lei e ninguém conhece  o nome.

O personagem foi criado por Luciano Cunha em 2008, mas somente em 2010 foi registrado e enviado para as editoras. Nesta época a HQ não escondia a aparência e nomes verdadeiros de políticos brasileiros, e por isso as editoras optaram por não publicá-la considerando a possibilidade de sofrerem processos.

Cunha então optou por publicar as páginas da HQ nas redes sociais, de maneira independente. Os primeiros capítulos de O Doutrinador começaram a ser postados em abril de 2013.  Dois meses depois, as manifestações de rua que se espalharam por todo o país potencializaram a audiência do personagem.

Um dia após publicar história em que o Doutrinador segue para São Paulo, eclode na  metrópole um protesto pela redução da passagem de ônibus, marcado pela forte repressão policial. Luciano se atualizou e já tinha o necessário para criar  a próxima tira, que mostraria o enfrentamento do personagem com a tropa de choque.

Assim como foi a força motriz nas manifestações de junho de 2013, a internet também mostra seu potencial na produção e divulgação de quadrinhos independentes.  Esse trabalho é mais um ilustre exemplo, que merece ser conhecido.

Devido ao grande sucesso, a história ganhou site próprio e versão impressa. É uma edição caprichada com 84 páginas, papel de qualidade, capa e miolo coloridos.

Mais informações pelo site:

http://www.odoutrinador.com.br/

E pela Fanpage no Facebook, que já conta com 36 mil curtidas:

https://www.facebook.com/leiaodoutrinador

 

o doutrinador página

 

 

Resenha do livro Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

A primeira resenha do blog é dedicada a um livro lançado recentemente, e que eu devorei praticamente em uma tacada só! Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995 nos traz 432 páginas da história da Circo Editorial e uma seleção de suas principais publicações. Organizado por Toninho Mendes, fundador da Circo Editorial, e editado  pela SESI São Paulo, o livro já pode ser encontrado nas livrarias. O valor de R$120  é salgado, mas vale muito a pena.

Mesmo fora das bancas há um tempo, os títulos da Circo sem dúvida mexeram com uma geração que enfrentava desafios políticos e identitários frente à recente abertura democrática e uma economia com índices inflacionários galopantes.

Acredito que os quadrinhos são poderosos instrumentos para se modificar a realidade em que vivemos. Na minha opinião a Circo Editorial alcançou esse objetivo com criatividade e bom humor. As histórias trazem uma crítica ácida endereçada não a um partido, costume ou ideologia específicas, mas a todo um imaginário existente acerca dos bons costumes. A direita, a esquerda, os drogados, os punks, os solteirões, o casal apaixonado… Todos os grupos urbanos em formação neste contexto de ebulição social não escaparam do humor crítico e escatológico das tirinhas.

Nasci em 1991 e por isso não tive a oportunidade de acompanhar os títulos da Circo nas bancas. Apesar disso, observo que Chiclete com Banana, Níquel Náusea, Geraldão e Piratas do Tietê ainda povoam o imaginário cultural brasileiro, assim como seus autores. Ao mencionar produção de quadrinhos no Brasil, não podemos deixar de pensar em Angeli, Laerte, Glauco e Luiz Gê, grandes nomes que se dedicaram à Circo em boa parte de suas carreiras. O livro tem o potencial de mostrar para uma nova geração este período que revolucionou a história das HQs nacionais em um período político e econômico extremamente conturbado.

As críticas presentes nas tirinhas e o iconismo personagens  permanecem incrivelmente atuais e são um bom instrumentos para se pensar a realidade brasileira com muito bom humor. Sem dúvida estas revistas representam um marco da cultura nacional, e nada mais justo que quase vinte anos após o fim da Circo elas sejam homenageadas. O livro ainda traz um encarte com o poema-revista A confissão para o Tietê, escrito por Toninho Mendes e ilustrado por Jaca, que me fez rir e me emocionar ao refletir sobre nosso rio paulistano, tão próximo porém tão esquecido pela população.

Quando era criança nunca gostei muito de revistas de super-heróis. Além da Turma da Mônica, meu primeiro contato com quadrinhos foram as tirinhas de jornal. Mesmo que não as entendesse completamente, elas me marcaram. Geraldão, Piratas do Tiete e Níquel Náusea sem dúvida marcaram a muitos. Inclusive a mim.

ImagemHumor Paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

Organização Toninho Mendes

SESI editora/432 páginas/R$120