Os Quadrinhos e a Copa

A Copa está chegando e mais uma vez os quadrinhos ganham espaço como mídia ao divulgar informações e opiniões com relação a este grande evento. Agora, o principal evento de futebol do mundo acontece no Brasil, e o que se observa é uma proliferação de charges que tratam do assunto, seja por meio do humor, da crítica ou da retratação de acontecimentos históricos.

Referência no cenário do jornalismo independente, a Agência Pública de Jornalismo Brasileiro publicou  sua primeira experiência de reportagem em formato de quadrinhos. Meninas em Jogo, assinada pela jornalista Andrea Dip e o quadrinista Alexandre de Maio, revela a teia da exploração e do turismo sexual infantil para a Copa do Mundo na cidade de Fortaleza, no Ceará, uma das 12 cidades-sede do mundial. A pauta surgiu em março de 2013 durante uma entrevista com a advogada Magnólia Said, que denunciou o aliciamento de meninas no interior da capital cearense.

A reportagem em quadrinhos é dividida em prólogo e cinco capítulos que trazem as narrativas das diversas fontes consultadas, além da repórter e do quadrinista, que também participam da narrativa. A reportagem  recebeu o prêmio do VII Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, e revela como esta é uma linguagem que traz muitos recursos e tem grande potencial.

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A história pode ser acessada na íntegra por meio deste link: http://apublica.org/2014/05/hq-meninas-em-jogo/#ancora

Seguindo a onda do jornalismo em quadrinhos, que vem ganhando cada vez mais espaço, três grandes portais de notícias não ficaram de fora e também lançaram séries em quadrinhos sobre futebol aproveitando o ano de Copa do Mundo. O Estadão lançou a série Histórias (do penta) em quadrinhos que narra acontecimentos dos títulos de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Já o portal UOL lançou uma série que conta a história do craque Josimar, com a sequência Josimar brilha após “bullying” de Telê, Trapaça argentina e Desdém brasileiro. A revista Serafina, da Folha, lançou uma saga em quadrinhos que conta a emocionante trajetória do atacante da seleção brasileira Givanildo Vieira de Souza, comicamente conhecido como Hulk. 

Futebol e quadrinhos sempre andaram muito próximos no Brasil, principalmente no humor gráfico. Brincadeiras com os traços dos jogadores e com os resultados dos jogos e críticas à organização das Copas já foram tema de grandes nomes dos quadrinhos nacionais, tais como Henfil, Ziraldo, Angeli e Chico Caruso.  O material destes artistas é vasto e poderá ser acessado pelo público a partir do dia 1º de junho na exposição Figurões da Copa, que acontecerá no SESC Belenzinho. A exposição é gratuita e ficará em cartaz até 17 de julho.

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Resenha do livro Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

A primeira resenha do blog é dedicada a um livro lançado recentemente, e que eu devorei praticamente em uma tacada só! Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995 nos traz 432 páginas da história da Circo Editorial e uma seleção de suas principais publicações. Organizado por Toninho Mendes, fundador da Circo Editorial, e editado  pela SESI São Paulo, o livro já pode ser encontrado nas livrarias. O valor de R$120  é salgado, mas vale muito a pena.

Mesmo fora das bancas há um tempo, os títulos da Circo sem dúvida mexeram com uma geração que enfrentava desafios políticos e identitários frente à recente abertura democrática e uma economia com índices inflacionários galopantes.

Acredito que os quadrinhos são poderosos instrumentos para se modificar a realidade em que vivemos. Na minha opinião a Circo Editorial alcançou esse objetivo com criatividade e bom humor. As histórias trazem uma crítica ácida endereçada não a um partido, costume ou ideologia específicas, mas a todo um imaginário existente acerca dos bons costumes. A direita, a esquerda, os drogados, os punks, os solteirões, o casal apaixonado… Todos os grupos urbanos em formação neste contexto de ebulição social não escaparam do humor crítico e escatológico das tirinhas.

Nasci em 1991 e por isso não tive a oportunidade de acompanhar os títulos da Circo nas bancas. Apesar disso, observo que Chiclete com Banana, Níquel Náusea, Geraldão e Piratas do Tietê ainda povoam o imaginário cultural brasileiro, assim como seus autores. Ao mencionar produção de quadrinhos no Brasil, não podemos deixar de pensar em Angeli, Laerte, Glauco e Luiz Gê, grandes nomes que se dedicaram à Circo em boa parte de suas carreiras. O livro tem o potencial de mostrar para uma nova geração este período que revolucionou a história das HQs nacionais em um período político e econômico extremamente conturbado.

As críticas presentes nas tirinhas e o iconismo personagens  permanecem incrivelmente atuais e são um bom instrumentos para se pensar a realidade brasileira com muito bom humor. Sem dúvida estas revistas representam um marco da cultura nacional, e nada mais justo que quase vinte anos após o fim da Circo elas sejam homenageadas. O livro ainda traz um encarte com o poema-revista A confissão para o Tietê, escrito por Toninho Mendes e ilustrado por Jaca, que me fez rir e me emocionar ao refletir sobre nosso rio paulistano, tão próximo porém tão esquecido pela população.

Quando era criança nunca gostei muito de revistas de super-heróis. Além da Turma da Mônica, meu primeiro contato com quadrinhos foram as tirinhas de jornal. Mesmo que não as entendesse completamente, elas me marcaram. Geraldão, Piratas do Tiete e Níquel Náusea sem dúvida marcaram a muitos. Inclusive a mim.

ImagemHumor Paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

Organização Toninho Mendes

SESI editora/432 páginas/R$120