Quadrinhos nas férias de julho

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As férias de julho estão aí! E para quem for ficar em São Paulo e não quer largar os quadrinhos, ótimas notícias! Há várias opções de exposições, cursos e oficinas relacionados à nona arte Confira a seleção de atividades que o enquadradinhos preparou, todas elas gratuitas ou oferecidas a um preço bem acessível. Aproveite!

SESC Ipiranga

Oficina HQ e Montagem de Fanzine. Com Caeto. Livre. R$20,00; R$10,00 (idosos, estudantes e professores da rede pública) e R$4,00 (usuários do SESC). Até 18/7. Sextas, 18h30.

Oficina Desenho Autoral. Com Jefferson Dias. Acima de 15 anos. Grátis. De 5/7 a 26/7. Sábados, 10h30.

Oficina SESC na Copa. Livre. Grátis. Desenho e Caricaturas de futebol. Com Jean Richard. Até 4/7. Terça a sexta, 11h e 14h.

SESC Pinheiros

Curso HQ e montagem de Fanzine. Com Caeto. Acima de 16 anos. R$30,00, R$ 15,00 (idosos, estudantes e professores da rede pública) e R$ 6,00 (usuários do SESC). De 8/7 a 26/8. Terças, 19h30. Inscrições a partir de 3/7.

SESC Santo Amaro

Oficina Desenho e narrativa. Com Rafael Coutinho e convidados. De 3/7 a 24/7. Quintas das 19h30 às 21h30.

SESC Vila Mariana

Quadrinhando: seleção de quadrinhos, norteados por um tema em comum, que permanece livre para acesso.

Quadrinhos latino-americanos. Grátis. Acima de 12 anos. Até 10/08. Terça à sexta, das 7h às 21h30. Sábados, Domingos e feriados, das 9h às 18h.

SESC Pompeia

Minicurso Para quem acha que não desenha. Com Lourenço Mutarelli. R$ 28,00, R$ 14,00 (idosos, estudantes e professores da rede pública) e R$7,00 ((usuários do SESC). Inscrições a partir de 5/7, 10h. Acima de 16 anos. De 8/7 a 31/7. Terças e quintas, 19h.

Curso Para quem acha que não escreve. Com Lourenço Mutarelli. R$ 28,00, R$ 14,00 (idosos, estudantes e professores da rede pública) e R$7,00 (usuários do SESC). Inscrições a partir de 5/7, 10h. Acima de 16 anos. De 9/7 a 1/8. Quartas e sextas, 19h.

Centro Cultural São Paulo 

Exposição Quadrinhos na Copa. Grátis. Até 10/8. Terça a sexta das 10h às 20h. Sábado, Domingo e feriado das 10h às 18h. Gibiteca Henfil.

Aproveite para conhecer o acervo da Gibiteca Henfil, que conta com 10 mil títulos entre álbuns de quadrinhos, gibis, periódicos e livros sobre HQ, muitos deles disponíveis para empréstimo.

 

Resenha da HQ Bordados

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Bordados é a terceira obra de Marjane Satrapi, lançada em 2010 pela Companhia das Letras. Mais uma vez a autora iraniana surpreende com uma narrativa dinâmica e gostosa, marcada pelo seu peculiar humor ácido e feminismo mordaz

O “bordar” iraniano seria equivalente ao nosso ao nosso “tricotar”, ou fofocar, além de possuir outra acepção importantíssima para as mulheres iranianas. A expressão bordado designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para aquelas que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento mas que são coibidas a corresponder às expectativas moralistas do país.

Assim como em outros livros, Marjane traz histórias das mulheres iranianas de sua família e lembranças de sua  infância. A narrativa se passa nos momentos após os almoços de família na casa da avó de Marjane Satrapi, em Teerã. Eles terminavam sempre da mesma maneira:  enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça e se reuniam para tomar chá. Era um momento pelo qual todas esperavam avidamente, já que, longe dos homens, podiam compartilhar seus sentimentos, ambições e frustrações.

Marjane, a mãe, a avó e suas amigas começavam então a contar suas desventuras com os homens, o amor e sua cultura opressiva ao sexo feminino. Entre uma xícara e outra, cada mulher começava a desfiar suas experiências e opiniões pessoais, além de fofocar sobre a vida alheia. É interessante notar que nesse grupo cada mulher tem uma relação distinta com a moral e vivências amorosas bastante variadas, mas que no entanto sempre estão às voltas com o machismo e a tradição.

O traço simples e os textos em letra corrida acentuam a intimidade que a a narrativa promove. A sensação é de se estar participando do chá ao lado dessas mulheres. Constantemente me coloquei no lugar de cada uma delas em suas histórias, e até de de Marjane, que era então apenas uma criança. Entre casamentos azarados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos narrados com bastante ironia, tem-se um misto de riso e tristeza.

Num episódio narrado pela avó, uma mulher entra em pânico antes do casamento porque perdeu a virgindade com o seu verdadeiro amor e tem medo de que o futuro marido descubra o fato justo na noite de núpcias. A avó sugere então que ela leve uma lâmina de barbear para a cama, grite muito durante o sexo e faça um pequeno corte em si mesma para simular o hímen rompido. A mulher aceita as sugestões, mas, na hora H, acaba cortando o testículo do marido. Todas caem na gargalhada porque o sujeito preferiu ficar quieto e casado do que correr o risco de virar piada dos amigos.

Com Bordados, desconstruímos uma série de visões comuns a respeito do Irã, principalmente sobre as mulheres. Ao contrário do que se imagina, muitas iranianas falam abertamente sobre sexo e discutem as tradições, procurando meios de serem livres. Seja por meio de estratégias, traições, cirurgias ou fugas, essas mulheres gritam suas opiniões, mesmo que secretamente e com muita frustração e sofrimento.

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Bordados

Autora: Marjane Satrapi

Editora: Companhia das Letras

136 páginas

R$ 39,00

 

 

Quadrinhos contra a corrupção: O Doutrinador

o doutrinador capa

O Doutrinador  é  um quadrinho brasileiro independente produzido pelo designer Luciano Cunha.  A história virou fenômeno nas redes sociais  por trazer um personagem polêmico justo às vésperas das manifestações de junho de 2013.  Trata-se de um justiceiro cujo objetivo é aniquilar os responsáveis pela corrupção no Brasil.

Embora a ideia do vigilante seja muito comum sobretudo entre os quadrinhos de super heróis, este personagem inova por ter suas incursões inseridas em casos reais do contexto político brasileiro.  São acontecimentos divulgados pela mídia,  mas que são negligenciados pelo Judiciário e caem no esquecimento.

A revolta e indignação com a corrupção e impunidade  levaram à criação de O Doutrinador, um justiceiro brasileiro que faria o acerto de contas com a classe política brasileira, custe o que custar. O uniforme militar, a camiseta do Sepultura e máscara de gás da II Guerra Mundial completam o perfil deste vigilante que vive à margem da lei e ninguém conhece  o nome.

O personagem foi criado por Luciano Cunha em 2008, mas somente em 2010 foi registrado e enviado para as editoras. Nesta época a HQ não escondia a aparência e nomes verdadeiros de políticos brasileiros, e por isso as editoras optaram por não publicá-la considerando a possibilidade de sofrerem processos.

Cunha então optou por publicar as páginas da HQ nas redes sociais, de maneira independente. Os primeiros capítulos de O Doutrinador começaram a ser postados em abril de 2013.  Dois meses depois, as manifestações de rua que se espalharam por todo o país potencializaram a audiência do personagem.

Um dia após publicar história em que o Doutrinador segue para São Paulo, eclode na  metrópole um protesto pela redução da passagem de ônibus, marcado pela forte repressão policial. Luciano se atualizou e já tinha o necessário para criar  a próxima tira, que mostraria o enfrentamento do personagem com a tropa de choque.

Assim como foi a força motriz nas manifestações de junho de 2013, a internet também mostra seu potencial na produção e divulgação de quadrinhos independentes.  Esse trabalho é mais um ilustre exemplo, que merece ser conhecido.

Devido ao grande sucesso, a história ganhou site próprio e versão impressa. É uma edição caprichada com 84 páginas, papel de qualidade, capa e miolo coloridos.

Mais informações pelo site:

http://www.odoutrinador.com.br/

E pela Fanpage no Facebook, que já conta com 36 mil curtidas:

https://www.facebook.com/leiaodoutrinador

 

o doutrinador página

 

 

Resenha da HQ O Boxeador

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O Boxeador conta a história real do pugilista polonês Hertzko Haft, que sobreviveu aos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. Esta Graphic Novel premiada no Festival de Lyon é baseada na biografia escrita pelo filho de Hertzko, Alan Haft, intitulada Um Dia Eu Contarei Tudo: Uma História de Sobrevivência . A adaptação de Reinhard Kleist para os quadrinhos traz 200 páginas de tirar o fôlego, com a história real de um homem que se endureceu para não cair. 

O cenário  é a Polônia no final dos anos 1930, em plena Segunda Guerra Mundial. Para sobreviver, a família do jovem judeu Hertzko Haft contrabandeava através da fronteira que dividia o país em dois, devido à ocupação alemã. Acidentalmente preso pela SS, Hertzo foi confinado nos campos de concentração nazistas.Ele então se vê obrigado a criar estratégias de sobrevivência para conseguir lidar com os horrores diários promovidos pelo autoritarismo dos nazistas alemães e o sofrimento dos colegas judeus. Conquistando a simpatia de alguns oficiais, logo extravasou toda a sua raiva e frustração nos ringues improvisados dos campos de concentração, construídos para a diversão dos nazistas. Cercado de violência, desumanidade e morte, não lhe restava outra escolha senão vencer.

É interessante observar como o traço de Kleist vai fica mais sujo e grosseiro a cada dia que se passa na história. As expressões faciais e emoções dos personagens vão sendo dissolvidas conforme a luta pela sobrevivência exige das suas capacidades individuais. A realidade de Auscwitz, a fome, as lutas  e mortes exigem de Hertzko que ele endureça sua personalidade. A frieza e calculismo  são mobilizadas também por militares, que muitas vezes não são afeitos à ideologista nazista e também tem de negociar e estabelecer acordos  para sobreviver, nem que este processo envolva traição e corrupção.  De algum modo a Graphic Novel mostra os dois lados do regime nazista, o que dá ainda mais realismo à narrativa.

Com o fim da guerra, “A fera judia”, como Hertzo ficou conhecido, migra para os EUA e luta boxe profissional. Lá ele enfrenta adversários lendários e até chega a lutar com Rocky Marciano. Ainda são várias as passagens que mostram as experiências traumáticas dos campos de concentração, de modo que a narrativa não perde a sua tônica.  Passamos então a entender melhor as motivações de Hertzo e o porquê de toda a sua dureza em um final surpreendente.

O fato de esta ter sido uma história real arrepia. O relato  do dia a dia nos campos de concentração sob o ponto de vista de um boxeador é algo diferente do que eu jamais tinha visto no que se refere a memórias sobre o holocausto. Tanto nos ringues como na vida, este homem realmente teve que sobreviver a todas as provações. E sua visão transparece as angústias e frustrações não apenas dos judeus, mas de todos que de alguma forma se envolveram com o nazismo, inclusive os militares. O fato de Hertzko só ter tornado sua história pública em 2009 revela que um relato sincero e sofrido como este é difícil de ser encarado, até pelas pessoas que o vivenciaram. E Reinhard Kleist transformou estas sofridas memórias em uma graphic novel complexa, tão fascinante como perturbadora.

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O Boxeador
Editora 8inverso
Título original: “Der Boxer”
Autor: Reinhard Kleist
Tradução: Augusto Paim
Preto e branco
17cm X 24cm
200 páginas
R$ 54,00

 

Feira de troca de livros e gibis

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Feira de Troca de Livros e Gibis,  promovida pela prefeitura de São Paulo,  é uma ótima pedida para quem quer renovar seu acervo de HQs de forma descomplicada e divertida. O projeto tem o intuito de transformar os parques em bibliotecas ao ar livre e dar a possibilidade ao público de trocar seus livros sem nenhum custo. 

Ali o esquema é simples: deixe sua HQ  e pegue outra. A troca pode ser feita tanto com a mesa como com outros frequentadores, o que torna o clima propício a novas amizades. Uma barraca cheia de livros fica durante algumas horas em algum parque de São Paulo, que com diversos títulos, tenta agradar todos os gostos. Estes são divididos em categorias, e a seção de quadrinhos/mangás vale a pena. Embora o espaço ainda seja um pouco infantilizado, com alguma persistência é possível encontrar coisas muito boas e algumas raridades. 

Para participar, basta levar livros em bom estado de conservação, de quaisquer gêneros literários e trocá-los na base de 1 por 1. Como o intuito da Feira é fomentar a Leitura de Textos Literários, não são aceitos livros de caráter informativo (didáticos-técnicos-escolares). 

Realizado desde 2007, o primeiro ano do evento reuniu cerca de 5 mil pessoas que trocaram mais de 10mil livros em três parques municipais. Com o passar do tempo o projeto foi ampliado e este ano está sendo realizado em dez parques. Confira as próximas datas e locais:

Dia 20 de julho – Parque da Aclimação
Rua Muniz de Souza, 1.119 – Aclimação – Centro
11 3208-4042

Dia 3 de agosto – Parque do Carmo
Avenida Afonso de Sampaio e Souza, 951, Itaquera – Zona Leste
11 2748-0010 / 2748-5001

Dia 7 de setembro – Parque da Independência
Entrada pelo portão da Rua Xavier de Almeida, altura do nº 06, lado esquerdo da Casa Amarela – Zona Sul
11 2273-7250

Dia 19 de outubro – Parque Raul Seixas
Rua Murmúrios da Tarde, 211 (COHAB 2), Itaquera – Zona Leste
11 2527-4142

Dia 16 de novembro – Parque Ibirapuera
Avenida República do Líbano, 1.151, portão 7, (próximo ao Viveiro Manequinho Lopes, ao lado do Bosque da Leitura, na antiga serraria), Vila Mariana – Zona Sul
11 5584-5045

Vale lembrar que a Feira de Troca de livros e gibis ocorre em diversas localidades, e não apenas em São Paulo. Acesse o site da prefeitura de sua cidade para obter mais informações.

Resenha da HQ Bando de Dois

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Bando de Dois é escrito e ilustrado por Danilo Beyruth e foi lançado no Brasil em 2010, pela editora Zarabatana. A obra foi um sucesso de crítica e público, sendo considerada uma das melhores HQs de 2010. Venceu o prêmio HQ Mix de 2011 nas categorias Melhor Edição Especial NacionalMelhor Desenhista Nacional e Melhor Roteirista Nacional. Também faturou o Prêmio Angelo Agostini de melhor lançamento.

A narrativa segue os passos de Tinhoso e Caveira de Boi, dois bandidos restantes de um grupo de cangaceiros liderados por Otônho. O bando foi dizimado pelo Tenente Honório e os “macacos” policiais, que deceparam suas cabeças e as colocaram em caixas. Elas rumam em direção à capital, onde serão exibidas como troféus. Após uma visão febril de seus companheiros, a dupla decide vingar os amigos mortos e poupá-los dessa vergonha pública. Uma vingança feita com sangue e metais quentes das balas zunindo pela caatinga e pelas peixeiras afiadas.

Bando de Dois é fruto da pesquisa de Beyruth sobre Lampião e o papel de anti-herói que os cangaceiros do nosso sertão exerciam. Neste ambiente ditado pela miséria e dominado pelo coronelismo, estes homens vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança, aterrorizando e saqueando vilas de camponeses. Foi assim que nasceu na história a vila fictícia de Nova Nazaré, lugarejo miserável habitado por um punhado de fanáticos religiosos, e que aos poucos é engolido pelas dunas como ondas do mar em câmera lenta. É interessante também notar que  os personagens cangaceiros são representados de maneira realista, o que dá ao mesmo tempo um caráter verossímil e épico à história. Tinhoso e Caveira de Boi são homens sujos, brutos e desdentados, e não cowboys idealizados.

A narrativa é cinematográfica e  possui um bom ritmo, com cenas empolgantes e que prendem o leitor à história. Todas as características de um bom filme western estão ali presentes: vingança, tiroteio, bandidos contra os agentes da lei e um pouco de elementos sobrenaturais, resgatam a ação e aventura nos quadrinhos brasileiros, raramente tão bem trabalhadas como neste bague bangue ambientado no sertão, com direito à confronto entre “macacos” e cangaceiros.

Mais uma vez Danilo Beyruth mostra seu talento como desenhista e roteirista, em uma narrativa criativa e que valoriza a história nacional.  Vale muito a pena ter na coleção.

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Bando de Dois

94 páginas

Autor: Danilo Beyruth (roteiro e desenho)

Editora: Zarabatana Books

Preço: R$ 41,00

 

321 Fast Comics: quadrinho brasileiro no Catarse

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321 Fast Comics é um projeto que está no Catarse e é organizado pelo  produtor e roteirista de cinema e quadrinhos Felipe Cagno. Trata-se de um compilado de histórias curtas desenhadas por vários ilustradores e que seguem três regrinhas básicas:  

3 Páginas
2 Personagens
1 Final Surpreendente

O livro trará histórias das mais diversas, desde fantasia, ficção científica até histórias contemporâneas, westerns e muito mais. Desde que essas três regras sejam respeitadas, os artistas estão livres para brincar com qualquer gênero, personagens e premissas narrativas. A ideia inusitada também promete ser visualmente impactante, já que contará com a participação de grandes nomes dos quadrinhos, tais como Geraldo Borges, Cris Peter, Vitor Cafaggi, Marcelo Maiolo, Jheremy Raapack, Thony Silas, Carlos Ruas, Mario Cau e muitos outros.

A experiência de reunir vários artistas de talento em histórias criativas já foi testada por Felipe Cagno, e deu muito certo.  Lost Kids: Buscando Samarkand , é uma HQ nacional que teve a participação de 15 ilustradores diferentes, cada um sendo responsável por um arco da história. O livro, totalmente em cores e em capa dura,  foi muito bem recebido pelos fãs e quadrinistas brasileiros. A saga traz a aventura de 5 adolescentes em um mundo fantasioso buscando um meio de voltar para casa mas acabam envolvidos numa jornada épica ao lado de um soldado exilado, um mercenário e um mago. 

Assim como foi em Lost Kids, o projeto 321 Fast Comics capta recursos a partir da plataforma Catarse, o maior site brasileiro de financiamento coletivo. Ou seja, o leitor investe no projeto enquanto ele ainda está sendo produzido, como uma espécie de pré-venda do material. Se a meta do projeto não é alcançada, o contribuinte recebe de volta o valor investido em créditos no Catarse ou em dinheiro.

Principalmente no Brasil, em que não há propriamente uma indústria de quadrinhos e grande parte dos trabalhos são independentes, o caminho do Catarse abre uma série de possibilidades. A plataforma é uma boa alternativa, pois viabiliza projetos autorais sem a necessidade da editora e recompensa o fã que apoiou a iniciativa com materiais exclusivos como pôsteres e artes originais.

No caso do 321 Fast Comics o financiamento coletivo irá cobrir os custos de produção, a impressão, a distribuição dos livros, as recompensas exclusivas e a taxa de 13% que o Catarse cobra em cima de todos os projetos. Quem apoiar  terá acesso ao clube 321: The Secret Room, que oferece informações exclusivas de bastidores e previews. O projeto terá apenas mais 22 dias no Catarse e por enquanto levantou 40% da meta. 

Contribua para a concretização desta iniciativa por meio do link:

http://catarse.me/pt/321FastComics 

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Resenha da HQ Turma da Mônica – Laços

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Turma da Mônica – Laços foi lançado em junho de 2013 e é o segundo título da Graphic MSP. O selo é fruto de um projeto da Maurício de Sousa Produções, que consiste em uma releitura dos personagens do estúdio em histórias no estilo Graphic Novel (romance gráfico), feitas por vários artistas brasileiros. A proposta é fazer HQs fechadas, com histórias de 80 páginas, que sejam amplamente distribuídas em bancas e livrarias. Não é à toa que Astronauta – Magnetar, a primeira Graphic MSP feita por Danilo Beyruth foi a HQ nacional mais lembrada de 2012, com três prêmios na HQMIX 2013. Laços, de Vitor e Lu Cafaggi está trilhando o mesmo caminho, sendo indicado a 5 categorias no HQMIX 2014 ( Edição Especial Nacional, Novo Talento – Desenhista – Lu Cafaggi, Publicação Infantojuvenil, Roteirista Nacional e Desenhista Nacional – Vitor Cafaggi).

Vitor e Lu Cafaggi criaram uma história original e criativa, obrigatória para quem cresceu junto ao universo da Turma da Mônica. Os traços são novos e diferentes do que podemos encontrar nos gibis, mas captam a essência dos personagens de Maurício de Sousa de maneira pura, artística e dinâmica.  A impressão que tive ao desfrutar dessa história foi a de reencontrar amigos de infância, em uma aventura deliciosa, cheia de emoção e magia.O leitor mais atento inclusive conseguirá identificar cenas de filmes infantojuvenis dos anos 80 e 90, e de HQs da própria Turma da Mônica ao longo de toda a história.

A premissa do roteiro é bem simples: Floquinho, o cão do Cebolinha, fugiu de casa e a turminha de amigos faz de tudo para encontrá-lo em uma busca que envolve muitas aventuras. A história se desenrola de forma suave e segura, em que a metáfora dos “laços” se mantém durante toda a narrativa. A enorme e sólida amizade entre a turminha e a sensibilidade de uma criança em relação ao seu animal de estimação são construídas de modo magnífico, e levam os personagens a criarem um “plano infalível” para resgatar o bichinho, em meio às estripulias já conhecidas de cada personagem.

Por isso Laços é uma boa HQ tanto para os iniciantes , que vão amar a história, como para os “veteranos” leitores de Turma da Mônica, já que brinca com vários detalhes fazem referência a gibis clássicos e a características dos personagens. Como num enigma para a resolução da narrativa, os autores trabalham com o sumiço de objetos na pelagem de Floquinho, o que dá uma coesão incrível à história.

As cores e os desenhos dos irmãos Cafaggi também são um show à parte.  A arte dos dois é belíssima e casa perfeitamente com a história. Vitor cuidou da narrativa principal, enquanto Lu cuidou das cenas de flashback, uma mais fofa do que a outra.Vale a pena também conferir os extras no final do livro, que mostram como os irmãos trabalharam os personagens até chegarem em suas formas definitivas.

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Turma da Mônica – Laços

80 páginas

Editora: Panini Comics – Edição Especial

Autores: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (roteiro e desenhos)

Preço: R$19,90 (capa cartonada) e R$ 29,90 (capa dura)

 

Os Quadrinhos e a Copa

A Copa está chegando e mais uma vez os quadrinhos ganham espaço como mídia ao divulgar informações e opiniões com relação a este grande evento. Agora, o principal evento de futebol do mundo acontece no Brasil, e o que se observa é uma proliferação de charges que tratam do assunto, seja por meio do humor, da crítica ou da retratação de acontecimentos históricos.

Referência no cenário do jornalismo independente, a Agência Pública de Jornalismo Brasileiro publicou  sua primeira experiência de reportagem em formato de quadrinhos. Meninas em Jogo, assinada pela jornalista Andrea Dip e o quadrinista Alexandre de Maio, revela a teia da exploração e do turismo sexual infantil para a Copa do Mundo na cidade de Fortaleza, no Ceará, uma das 12 cidades-sede do mundial. A pauta surgiu em março de 2013 durante uma entrevista com a advogada Magnólia Said, que denunciou o aliciamento de meninas no interior da capital cearense.

A reportagem em quadrinhos é dividida em prólogo e cinco capítulos que trazem as narrativas das diversas fontes consultadas, além da repórter e do quadrinista, que também participam da narrativa. A reportagem  recebeu o prêmio do VII Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, e revela como esta é uma linguagem que traz muitos recursos e tem grande potencial.

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A história pode ser acessada na íntegra por meio deste link: http://apublica.org/2014/05/hq-meninas-em-jogo/#ancora

Seguindo a onda do jornalismo em quadrinhos, que vem ganhando cada vez mais espaço, três grandes portais de notícias não ficaram de fora e também lançaram séries em quadrinhos sobre futebol aproveitando o ano de Copa do Mundo. O Estadão lançou a série Histórias (do penta) em quadrinhos que narra acontecimentos dos títulos de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Já o portal UOL lançou uma série que conta a história do craque Josimar, com a sequência Josimar brilha após “bullying” de Telê, Trapaça argentina e Desdém brasileiro. A revista Serafina, da Folha, lançou uma saga em quadrinhos que conta a emocionante trajetória do atacante da seleção brasileira Givanildo Vieira de Souza, comicamente conhecido como Hulk. 

Futebol e quadrinhos sempre andaram muito próximos no Brasil, principalmente no humor gráfico. Brincadeiras com os traços dos jogadores e com os resultados dos jogos e críticas à organização das Copas já foram tema de grandes nomes dos quadrinhos nacionais, tais como Henfil, Ziraldo, Angeli e Chico Caruso.  O material destes artistas é vasto e poderá ser acessado pelo público a partir do dia 1º de junho na exposição Figurões da Copa, que acontecerá no SESC Belenzinho. A exposição é gratuita e ficará em cartaz até 17 de julho.

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Resenha do livro Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

A primeira resenha do blog é dedicada a um livro lançado recentemente, e que eu devorei praticamente em uma tacada só! Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995 nos traz 432 páginas da história da Circo Editorial e uma seleção de suas principais publicações. Organizado por Toninho Mendes, fundador da Circo Editorial, e editado  pela SESI São Paulo, o livro já pode ser encontrado nas livrarias. O valor de R$120  é salgado, mas vale muito a pena.

Mesmo fora das bancas há um tempo, os títulos da Circo sem dúvida mexeram com uma geração que enfrentava desafios políticos e identitários frente à recente abertura democrática e uma economia com índices inflacionários galopantes.

Acredito que os quadrinhos são poderosos instrumentos para se modificar a realidade em que vivemos. Na minha opinião a Circo Editorial alcançou esse objetivo com criatividade e bom humor. As histórias trazem uma crítica ácida endereçada não a um partido, costume ou ideologia específicas, mas a todo um imaginário existente acerca dos bons costumes. A direita, a esquerda, os drogados, os punks, os solteirões, o casal apaixonado… Todos os grupos urbanos em formação neste contexto de ebulição social não escaparam do humor crítico e escatológico das tirinhas.

Nasci em 1991 e por isso não tive a oportunidade de acompanhar os títulos da Circo nas bancas. Apesar disso, observo que Chiclete com Banana, Níquel Náusea, Geraldão e Piratas do Tietê ainda povoam o imaginário cultural brasileiro, assim como seus autores. Ao mencionar produção de quadrinhos no Brasil, não podemos deixar de pensar em Angeli, Laerte, Glauco e Luiz Gê, grandes nomes que se dedicaram à Circo em boa parte de suas carreiras. O livro tem o potencial de mostrar para uma nova geração este período que revolucionou a história das HQs nacionais em um período político e econômico extremamente conturbado.

As críticas presentes nas tirinhas e o iconismo personagens  permanecem incrivelmente atuais e são um bom instrumentos para se pensar a realidade brasileira com muito bom humor. Sem dúvida estas revistas representam um marco da cultura nacional, e nada mais justo que quase vinte anos após o fim da Circo elas sejam homenageadas. O livro ainda traz um encarte com o poema-revista A confissão para o Tietê, escrito por Toninho Mendes e ilustrado por Jaca, que me fez rir e me emocionar ao refletir sobre nosso rio paulistano, tão próximo porém tão esquecido pela população.

Quando era criança nunca gostei muito de revistas de super-heróis. Além da Turma da Mônica, meu primeiro contato com quadrinhos foram as tirinhas de jornal. Mesmo que não as entendesse completamente, elas me marcaram. Geraldão, Piratas do Tiete e Níquel Náusea sem dúvida marcaram a muitos. Inclusive a mim.

ImagemHumor Paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

Organização Toninho Mendes

SESI editora/432 páginas/R$120