Resenha da HQ Bando de Dois

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Bando de Dois é escrito e ilustrado por Danilo Beyruth e foi lançado no Brasil em 2010, pela editora Zarabatana. A obra foi um sucesso de crítica e público, sendo considerada uma das melhores HQs de 2010. Venceu o prêmio HQ Mix de 2011 nas categorias Melhor Edição Especial NacionalMelhor Desenhista Nacional e Melhor Roteirista Nacional. Também faturou o Prêmio Angelo Agostini de melhor lançamento.

A narrativa segue os passos de Tinhoso e Caveira de Boi, dois bandidos restantes de um grupo de cangaceiros liderados por Otônho. O bando foi dizimado pelo Tenente Honório e os “macacos” policiais, que deceparam suas cabeças e as colocaram em caixas. Elas rumam em direção à capital, onde serão exibidas como troféus. Após uma visão febril de seus companheiros, a dupla decide vingar os amigos mortos e poupá-los dessa vergonha pública. Uma vingança feita com sangue e metais quentes das balas zunindo pela caatinga e pelas peixeiras afiadas.

Bando de Dois é fruto da pesquisa de Beyruth sobre Lampião e o papel de anti-herói que os cangaceiros do nosso sertão exerciam. Neste ambiente ditado pela miséria e dominado pelo coronelismo, estes homens vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança, aterrorizando e saqueando vilas de camponeses. Foi assim que nasceu na história a vila fictícia de Nova Nazaré, lugarejo miserável habitado por um punhado de fanáticos religiosos, e que aos poucos é engolido pelas dunas como ondas do mar em câmera lenta. É interessante também notar que  os personagens cangaceiros são representados de maneira realista, o que dá ao mesmo tempo um caráter verossímil e épico à história. Tinhoso e Caveira de Boi são homens sujos, brutos e desdentados, e não cowboys idealizados.

A narrativa é cinematográfica e  possui um bom ritmo, com cenas empolgantes e que prendem o leitor à história. Todas as características de um bom filme western estão ali presentes: vingança, tiroteio, bandidos contra os agentes da lei e um pouco de elementos sobrenaturais, resgatam a ação e aventura nos quadrinhos brasileiros, raramente tão bem trabalhadas como neste bague bangue ambientado no sertão, com direito à confronto entre “macacos” e cangaceiros.

Mais uma vez Danilo Beyruth mostra seu talento como desenhista e roteirista, em uma narrativa criativa e que valoriza a história nacional.  Vale muito a pena ter na coleção.

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Bando de Dois

94 páginas

Autor: Danilo Beyruth (roteiro e desenho)

Editora: Zarabatana Books

Preço: R$ 41,00

 

Resenha da HQ Turma da Mônica – Laços

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Turma da Mônica – Laços foi lançado em junho de 2013 e é o segundo título da Graphic MSP. O selo é fruto de um projeto da Maurício de Sousa Produções, que consiste em uma releitura dos personagens do estúdio em histórias no estilo Graphic Novel (romance gráfico), feitas por vários artistas brasileiros. A proposta é fazer HQs fechadas, com histórias de 80 páginas, que sejam amplamente distribuídas em bancas e livrarias. Não é à toa que Astronauta – Magnetar, a primeira Graphic MSP feita por Danilo Beyruth foi a HQ nacional mais lembrada de 2012, com três prêmios na HQMIX 2013. Laços, de Vitor e Lu Cafaggi está trilhando o mesmo caminho, sendo indicado a 5 categorias no HQMIX 2014 ( Edição Especial Nacional, Novo Talento – Desenhista – Lu Cafaggi, Publicação Infantojuvenil, Roteirista Nacional e Desenhista Nacional – Vitor Cafaggi).

Vitor e Lu Cafaggi criaram uma história original e criativa, obrigatória para quem cresceu junto ao universo da Turma da Mônica. Os traços são novos e diferentes do que podemos encontrar nos gibis, mas captam a essência dos personagens de Maurício de Sousa de maneira pura, artística e dinâmica.  A impressão que tive ao desfrutar dessa história foi a de reencontrar amigos de infância, em uma aventura deliciosa, cheia de emoção e magia.O leitor mais atento inclusive conseguirá identificar cenas de filmes infantojuvenis dos anos 80 e 90, e de HQs da própria Turma da Mônica ao longo de toda a história.

A premissa do roteiro é bem simples: Floquinho, o cão do Cebolinha, fugiu de casa e a turminha de amigos faz de tudo para encontrá-lo em uma busca que envolve muitas aventuras. A história se desenrola de forma suave e segura, em que a metáfora dos “laços” se mantém durante toda a narrativa. A enorme e sólida amizade entre a turminha e a sensibilidade de uma criança em relação ao seu animal de estimação são construídas de modo magnífico, e levam os personagens a criarem um “plano infalível” para resgatar o bichinho, em meio às estripulias já conhecidas de cada personagem.

Por isso Laços é uma boa HQ tanto para os iniciantes , que vão amar a história, como para os “veteranos” leitores de Turma da Mônica, já que brinca com vários detalhes fazem referência a gibis clássicos e a características dos personagens. Como num enigma para a resolução da narrativa, os autores trabalham com o sumiço de objetos na pelagem de Floquinho, o que dá uma coesão incrível à história.

As cores e os desenhos dos irmãos Cafaggi também são um show à parte.  A arte dos dois é belíssima e casa perfeitamente com a história. Vitor cuidou da narrativa principal, enquanto Lu cuidou das cenas de flashback, uma mais fofa do que a outra.Vale a pena também conferir os extras no final do livro, que mostram como os irmãos trabalharam os personagens até chegarem em suas formas definitivas.

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Turma da Mônica – Laços

80 páginas

Editora: Panini Comics – Edição Especial

Autores: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (roteiro e desenhos)

Preço: R$19,90 (capa cartonada) e R$ 29,90 (capa dura)

 

Resenha do livro Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

A primeira resenha do blog é dedicada a um livro lançado recentemente, e que eu devorei praticamente em uma tacada só! Humor paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995 nos traz 432 páginas da história da Circo Editorial e uma seleção de suas principais publicações. Organizado por Toninho Mendes, fundador da Circo Editorial, e editado  pela SESI São Paulo, o livro já pode ser encontrado nas livrarias. O valor de R$120  é salgado, mas vale muito a pena.

Mesmo fora das bancas há um tempo, os títulos da Circo sem dúvida mexeram com uma geração que enfrentava desafios políticos e identitários frente à recente abertura democrática e uma economia com índices inflacionários galopantes.

Acredito que os quadrinhos são poderosos instrumentos para se modificar a realidade em que vivemos. Na minha opinião a Circo Editorial alcançou esse objetivo com criatividade e bom humor. As histórias trazem uma crítica ácida endereçada não a um partido, costume ou ideologia específicas, mas a todo um imaginário existente acerca dos bons costumes. A direita, a esquerda, os drogados, os punks, os solteirões, o casal apaixonado… Todos os grupos urbanos em formação neste contexto de ebulição social não escaparam do humor crítico e escatológico das tirinhas.

Nasci em 1991 e por isso não tive a oportunidade de acompanhar os títulos da Circo nas bancas. Apesar disso, observo que Chiclete com Banana, Níquel Náusea, Geraldão e Piratas do Tietê ainda povoam o imaginário cultural brasileiro, assim como seus autores. Ao mencionar produção de quadrinhos no Brasil, não podemos deixar de pensar em Angeli, Laerte, Glauco e Luiz Gê, grandes nomes que se dedicaram à Circo em boa parte de suas carreiras. O livro tem o potencial de mostrar para uma nova geração este período que revolucionou a história das HQs nacionais em um período político e econômico extremamente conturbado.

As críticas presentes nas tirinhas e o iconismo personagens  permanecem incrivelmente atuais e são um bom instrumentos para se pensar a realidade brasileira com muito bom humor. Sem dúvida estas revistas representam um marco da cultura nacional, e nada mais justo que quase vinte anos após o fim da Circo elas sejam homenageadas. O livro ainda traz um encarte com o poema-revista A confissão para o Tietê, escrito por Toninho Mendes e ilustrado por Jaca, que me fez rir e me emocionar ao refletir sobre nosso rio paulistano, tão próximo porém tão esquecido pela população.

Quando era criança nunca gostei muito de revistas de super-heróis. Além da Turma da Mônica, meu primeiro contato com quadrinhos foram as tirinhas de jornal. Mesmo que não as entendesse completamente, elas me marcaram. Geraldão, Piratas do Tiete e Níquel Náusea sem dúvida marcaram a muitos. Inclusive a mim.

ImagemHumor Paulistano: a experiência da Circo Editorial 1984 – 1995

Organização Toninho Mendes

SESI editora/432 páginas/R$120